Entrevista com Patrícia Crizanto: ”Deus tem sido a fonte de toda força para prosseguir aos poucos. Não é fácil”
O Dia Internacional da Mulher simboliza as conquistas e a luta das mulheres por direitos iguais.
A escritora e ativista norte-americana, Angela Davis, um dos ícones da luta pelos direitos civis, se vale de um lema, “Erguendo-nos, enquanto subimos”, para afirmar que as conquistas sociais devem alcançar e envolver todos os grupos da sociedade.
Na visão dela, portanto, não há uma forma de garantir o direito das mulheres sem educar os homens, assim como os avanços do direito dos negros, por exemplo, dependem de políticas públicas em setores como saúde, emprego e segurança pública.
Partindo dessa visão crítica, e dando continuidade à série especial de entrevistas do mês das mulheres, do Consórcio de Notícias do Espírito Santo (CNES), a reportagem do grupo Política Capixaba conversou com a vereadora do município de Vila Velha, Patrícia Crizanto (PSB).
Ela vive o drama de ter perdido seu filho, Pedro Henrique Crizanto, de 20 anos.
O jovem foi assassinado durante os ensaios para o Carnaval da capital Vitória, no último dia 1 de fevereiro. Um adolescente de 17 anos foi preso pela Polícia Civil, dois dias depois do crime. Ele já tinha duas passagens por homicídios e confessou ter matado Pedro Henrique.
Patrícia Crizanto está em seu segundo mandato no legislativo municipal, defendendo justamente pautas ligadas à segurança pública, combate às desigualdades, defesa e promoção dos direitos da mulher, atenção às pessoas em vulnerabilidade e na repressão à discriminação racial.
Confira a quarta entrevista especial do mês das mulheres:
A senhora está atravessando o momento doloroso da perda recente de um filho para a violência. Uma dor compartilhada por milhares de mães do País. Como está encontrando motivações para dar continuidade ao seu trabalho como pessoa pública?
Deus tem sido a fonte de toda força para prosseguir aos poucos. Não é fácil retomar a luta quando você está entre as vítimas, mas o que sempre me motivou a trabalhar como pessoa pública foi ajudar a melhorar a vida das pessoas e foram essas milhares de pessoas que estiveram ao meu lado neste momento, então é por elas que eu tenho juntado forças para prosseguir.
Atuando no campo social e tendo a empatia inerente aos princípios cristãos, muitas vezes a senhora precisou consolar outras famílias. A senhora tem recebido muito apoio? Como pretende atuar, para que outras mães não experimentem essa angústia?
Recebi milhares de manifestações de apoio, abraços e palavras de força durante todo esse processo e ainda tenho recebido, e isso tem nos fortalecido. Vamos continuar trabalhando para que portas de oportunidade cheguem antes da criminalidade, e os jovens como este que cometeu este crime contra um inocente façam escolhas corretas.
A senhora acredita que a solução da Justiça para esses crimes ainda depende da classe social da vítima?
Não. Acredito que as forças que trabalham para o cumprimento da justiça precisam ser mais integradas e ágeis, com a finalidade de que nenhum caso de violência fique impune.
A senhora disse em entrevista que não pensa em vingança, mas clama por justiça. Em que consiste a justiça que a senhora espera?
Justiça, no seu conceito e no clamor da palavra. Justiça para que todos os envolvidos possam ser identificados e punidos, mas também para que qualquer evento tenha o mínimo de segurança, para que pessoas não tenham medo de sair de suas casas e que direitos básicos como segurança e lazer sejam garantidos pelo Estado. Confio plenamente na justiça de Deus, que no seu tempo responde nossas orações e julga nossas causas.
Pautas como a redução da maioridade penal, internações compulsórias para usuários de drogas e aumento da pena para determinados crimes são apontadas como solução para a insegurança urbana. A senhora acredita nessas propostas como solução para a violência?
Acredito que deve haver a discussão de todas as falhas do estado na garantia e acesso a direitos, mas também é necessário a revisão da legislação no que trata de crimes hediondos. Ninguém pode tirar a vida de outra pessoa por ter garantia da impunidade.
O que a senhora acredita poder fazer, a partir do legislativo municipal, para reduzir efetivamente a violência no Espírito Santo?
Muitas medidas podem ser tomadas. Eu, em meu retorno às atividades, apresentei um Projeto de Lei que estabelece a obrigatoriedade de serviços de segurança especializada em eventos realizados no âmbito do município de Vila Velha, com a intenção de garantir que sempre haverá o mínimo de segurança que inibam ou evitem tragédias como a do meu filho.
Fiz também sugestão para apreciação do projeto na Assembleia Legislativa do estado e acredito que diversas medidas podem ser tomadas para que a população tenha mais segurança, a partir da atenção aos casos que já ocorrem diariamente em nosso estado e no país.
É preciso ampliar o trabalho social nas comunidades, como atividades para crianças e jovens de empreendedorismo, educação, cultura e esporte que tem incentivo direito do poder legislativo. Também precisamos fiscalizar o executivo para que promovam ações, campanhas e oportunidades gerando um ambiente de prevenção antes das ações de repressão.
O que pode ser feito, em virtude de jovens que cometem crimes, para reduzir o índice de reincidência e colocá-los num caminho de produtividade a favor da sociedade?
A apresentação de novas possibilidades, uma legislação que mostre os prejuízos de voltar a praticar aquilo, os riscos a que ele está exposto, aproximá-los de Deus e principalmente os fazer entender a dor dos familiares.
Nesse mês da Mulher, o que a senhora gostaria de dizer para as mulheres que vivem um drama similar ao seu? Ou para as mães de jovens que fazem parte do mundo do crime? A senhora poderia falar quais seriam as prioridades do poder público, para a redução da violência?
A cada mãe, avó, tia ou qualquer pessoa que tenha se dedicado com amor a uma pessoa, só posso dizer que tudo que fizemos não foi em vão. Somos resultados do que plantamos e não do que colhemos, e cabe a Deus dizer nosso tempo. As mães que tem seu filho em situação de vulnerabilidade, na criminalidade ou presos eu digo: não desista do seu filho. Enquanto eles estão vivos existe chance de mudar.
Os índices de violência contra mulheres, jovens e toda sociedade são alarmantes e não param de crescer. Acredito que é preciso um debate com todos os agentes públicos dos poderes constitucionais, mas também ouvindo as organizações da sociedade civil, seguido de ações conjuntas imediatas. Ou nós paramos para rever tudo isso juntos ou ações isoladas e pontuais de governos não terão o efeito necessário.
Seu mandato sempre conteve a pauta de políticas para a redução da violência, sobretudo contra as mulheres. A senhora vai atuar mais duramente na luta por políticas que protejam a vida dos nossos jovens?
Desde antes de estar vereadora, atuo na luta pela vida da nossa juventude e por oportunidades a todos, em especial aos jovens de periferia e em vulnerabilidade. Agora tenho a missão de direcionar todo nosso esforço para ampliar essa luta e acolher todos os que queiram somar nessa causa. Em nosso primeiro mandato somamos esforços para criação da coordenação de juventude na estrutura do excutivo municipal e a reestruturação do Conselho Municipal de Juventude.
A senhora é do bairro São Torquato e realizou muito trabalhos sociais em regiões classificadas como de risco social. Os jovens dessas localidades são muito vulneráveis aos efeitos da insegurança social? O que pode ser feito para desestimular a “carreira” no crime?
A vulnerabilidade expõe qualquer jovem ao risco social, mas em especial os jovens de periferia pela falta de oportunidades e de segurança. Políticas públicas de acolhimento, capacitação, direcionamento, cultura e esporte são fundamentais para salvar qualquer pessoa.
Carlos Mobutto | Jornalista da AZ
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