Fernanda Vieira: A Mulher que Redefiniu a Cultura da Serra

Uma trajetória de resistência, construção e inspiração no Conselho Municipal de Cultura (2019–2024)” Enquanto houver quem ouse sonhar, a arte será o que há de salvar.” — Fernanda Vieira
Quando a Cultura Vira Ato de Resistência
Por trás dos avanços que moldaram a política cultural da Serra nos últimos cinco anos, um nome se destaca: Fernanda Vieira. Sua trajetória à frente do Conselho Municipal de Cultura não foi apenas administrativa, foi profundamente transformadora. Entre 2019 e 2024, ela conduziu um processo de reconstrução, enfrentou a pandemia, promoveu a criação do Fundo Municipal de Cultura e protagonizou momentos históricos de resistência, como a renúncia coletiva em defesa da autonomia do órgão.
O Desafio de Começar do Zero
Quando assumiu, em 2019, o Conselho estava praticamente desativado. A legislação que o criou, de 1997, estava ultrapassada e desconectada das demandas contemporâneas. Não havia Fundo, Plano, nem Sistema Municipal de Cultura.
Incentivada pelo Comendador Paulo Negreiros , figura icônica da cultura local , Fernanda aceitou o desafio. “Eu não entendia nada sobre leis ou burocracia, só sabia que precisava fazer”, relembra. A perda de Paulo, pouco após sua posse, deixou o desafio ainda maior, mas também reforçou a responsabilidade de honrar seu legado.
Pandemia, Fundo de Cultura e a Lei Aldir Blanc
Se reconstruir o Conselho já parecia tarefa gigante, a chegada da pandemia tornou tudo ainda mais urgente. O setor cultural foi paralisado e o município, na iminência de perder recursos federais.
Ao lado de um time comprometido, formado por Márcio Barros, como vice-presidente, e Iberê, como secretário, Fernanda liderou a mobilização que resultou na criação do Fundo Municipal de Cultura, batizado justamente de Lei Comendador Paulo Negreiros, em homenagem ao mentor da causa.
Outro feito histórico: a condução da distribuição dos recursos da Lei Aldir Blanc na Serra. Enquanto muitas cidades fracassaram, a Serra garantiu que os recursos chegassem aos artistas e espaços culturais.
A Renúncia Coletiva como Ato Político
A luta nem sempre encontrou eco no poder público. Nos últimos dias do primeiro mandato, o Conselho sofreu ingerências e teve suas deliberações ignoradas. A resposta foi à altura: uma renúncia coletiva histórica, a nove dias do fim da gestão.
“Foi um grito. Um ato para dizer que a cultura precisa ser tratada com respeito”, afirma Fernanda.
O Retorno com Protagonismo Feminino
Dois anos depois, em 2022, Fernanda retornou ao Conselho, agora ao lado de Adriana Dutra, como vice-presidente, e Ana Carla, consolidando uma gestão de protagonismo feminino, sensível e combativa.
O trio foi essencial na formulação dos planos de ação da Lei Paulo Gustavo, da Lei Fundo a Fundo e da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB). Mais uma vez, foram elas que pressionaram o município a estruturar seu Sistema Municipal de Cultura, unindo Fundo, Conselho e Plano.
Patrimônio e História: A Luta pelo Tombamento
Além das políticas públicas, a atuação de Fernanda e do Conselho também foi fundamental no processo de tombamento da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Serra Sede , um patrimônio histórico e símbolo da identidade cultural serrana.
O Legado Reconhecido Pelos Pares
O que diferencia Fernanda não são apenas os resultados expressivos por si só , mas a forma como conduziu sua missão: pela escuta, pelo afeto e pela construção coletiva.
Para quem caminhou ao lado dela, os elogios são unânimes. Lindomar Gomes, produtor cultural e atual diretor de Cultura do município de Serra destaca:
“Fernanda foi um pilar de força, um exemplo de dedicação e, acima de tudo, um espírito verdadeiramente coletivo e acolhedor. Sua liderança foi pautada pela generosidade, pela escuta e pela crença no potencial da nossa cultura e das pessoas que a fazem viver.”
Adriana Dutra, vice-presidente do Conselho de Cultura entre 2023/24 e Produtora Cultural.
“Não tem como falar de Fernanda Vieira de forma imparcial. Tenho imensa gratidão e admiração por essa mulher de coragem, sensibilidade e ação firme, que tem sido voz ativa na construção de uma cultura mais justa, plural e respeitosa no município da Serra. Fernanda tem sido ponte entre sonhos e realizações, entre as lutas históricas da classe artística e as políticas públicas que podem garantir dignidade, reconhecimento e oportunidade. Que sua trajetória siga inspirando todos que acreditam na potência da arte como ferramenta de vida e liberdade.”
E quem também compartilha desse reconhecimento é Márcio Barros,produtor cultural que esteve na linha de frente ao lado de Fernanda no primeiro mandato. Seu depoimento sintetiza a dimensão desse legado:
“Participar da construção do Sistema Municipal de Cultura da Serra ao lado de Fernanda foi uma honra e uma experiência transformadora. Vivemos momentos muito difíceis, sobretudo durante a pandemia, mas também momentos de muita vitória. A criação do Fundo Municipal de Cultura, da Lei que leva o nome do Comendador Paulo Negreiros, e a condução da Lei Aldir Blanc foram conquistas históricas. Fernanda tem uma capacidade rara de unir, articular e, acima de tudo, inspirar. A cultura da Serra hoje é outra por causa da coragem, da resiliência e do comprometimento dela. Eu só posso agradecer por ter feito parte dessa história.”
O Futuro que Floresce
Ao se despedir do Conselho, Fernanda deixa claro que sua luta não terminou. O que construiu se mantém como alicerce para as próximas gerações de fazedores de cultura na Serra. Sua trajetória prova que é possível transformar, mesmo quando tudo parece desmoronar.
E como ela própria costuma dizer, agora ecoando como um mantra entre artistas, gestores e ativistas da cultura serrana:
“Enquanto houver quem ouse sonhar, a arte será o que há de salvar.”

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